Vamos conhecer a Luta Tradicional Portuguesa, também conhecida como Luta Galhofa?

Ela pode até não ser conhecida por muitos, mas faz parte da cultura portuguesa, e é anterior à formação de Portugal como nação.

13/10/2022

Da Redação | Crédito das fotos: Arquivo Pessoal do mestre Vítor Gomes

A Luta Galhofa, arte marcial calaica, era praticada em Trás-os-Montes, uma província histórica de Portugal. No Nordeste Transmontano, chamava-se Galhofa, e no Alto Tâmega e Barroso, tinha a designação de luta. Naquela época houve uma fusão entre povos e divididos em tribos, os lusitanos eram os mais conhecidos, ficando a Lusitânia entre o rio Douro e o Tejo. Um dos seus mais famosos chefes foi Viriato (um pastor de gado por profissão), famoso por sua bravura e pelas vitórias diante dos romanos. Muito temido por eles, nunca o conseguiram vencer. Foi morto e traído por pessoas de sua confiança.

Consta-se que também tinham uma bebida, a porção mágica, isso aconteceu não na França, mas na Lusitânia (Portugal): uma bebida feita com cogumelos venenosos, da qual as propriedades alucinógenas deixavam os guerreiros ainda mais bravos e invencíveis. Este tipo de luta transitou até aos descendentes dos lusitanos, o povo português. Teve ainda uma variante própria na zona da margem Sudeste do rio Douro e em várias localidades e povoações ao Sul. Todos esses lugares pertenceram à Lusitânia. A tradição do estilo da Luta Galhofa pode ter sido perdida nessas zonas por vários fatores ao longo do tempo.





Século XXI

Em 2008, surgiu uma associação lúdico desportiva lusitana para revitalizar e incentivar a prática da renascida luta tradicional lusitana (a Maluta ou Gauruni, em língua lusitana), que ainda era praticada no Sabugal, no século passado. Esta é uma arte “irmã” da Luta Galhofa Transmontana, semelhante a outras lutas tradicionais galaicas, celtas, europeias e mesmo em outros continentes.

A Galhofa é uma luta regional antiga da qual se desconhece a sua origem. Contudo, a designação de Galhofa tem, no mínimo 200 anos, mas remonta ao tempo dos galaicos, essa forma de luta com mais de 2000 anos.

O objetivo era derrubar o adversário, de forma que ele "tocasse" o chão com as costas. Quem derrubasse era considerado o vencedor. Em algumas aldeias ou localidades, o campeão tinha um farrapo ou cordão amarrado na cintura, e quando outro homem o desafiava e conseguia vencê-lo, esse farrapo era retirado, como se fosse um verdadeiro troféu. Uma espécie de Wrestling Transmontano definido como desporto de combate. É tida como a única luta corpo a corpo de origem portuguesa. Uma particularidade que a Luta Galhofa tem é que, antes de iniciar e ao final, os praticantes dão um abraço, prevalecendo a amizade e o respeito.

Vítor Gomes

Com a finalidade de não perder a essência dessa luta tradicional, transformada em modalidade desportiva, graças ao mestre Vítor Gomes, ele introduziu-a na federação. Hoje, a Luta Galhofa está sob a égide da Federação Portuguesa de Lutas Amadoras (FPLA).

Claro que foi um caminho longo e difícil de percorrer, mas contou com o apoio da Associação Portuguesa O Samurai (APS). Em 2009, ela foi oficialmente criada.Em 09 de fevereiro de 2013, criaram a Federação Portuguesa de Luta Galhofa e Desportos Interculturais - O Guerreiro Lusitano (FPLGDI). Somente em 2016 que ela reconheceu a Luta Galhofa como modalidade desportiva. Para além do reconhecimento da FPLA (que tem um carinho muito especial pela disciplina), atualmente é reconhecida por todas as entidades.


Mudanças

Incluíram dois componentes: desportivo e cultural. O cultural não teve grandes alterações, pois os objetivos são preservá-la e divulgá-la. Quanto ao fator desportivo, há alterações: definição de equipamentos e passou a englobar todas as faixas etárias, com isso, mulheres puderam praticar.

Ao invés da palha dos currais, temos os tradicionais tatames ou tapetes das artes marciais, o tronco dos atletas deixa de ser despido e já é coberto com uma lycra para permitir que as mulheres também pratiquem. As calças, por sua vez, são de material leve, mas robusto e confortável, como a sarja.

Sistema de faixas

A faixa branca é utilizada pelos iniciantes, a amarela pelos "intermédios", a faixa castanha pelos avançados e a preta pelos instrutores. Tem divisões de idades e pesos, eliminatórias, equipe de arbitragem, entre outros.

Em 2018, houve a primeira prova oficial de Luta Galhofa pela FPLA, na Vila de Boticas, e em 2019, mais uma edição. Na segunda prova oficial, decidiram também trazer ao público a modalidade tradicional sobre a palha, em um evento realizado na Vila das Pedras Salgadas.

Na competição, os atletas da APS participaram no masculino e feminino, mas no formato tradicional só podem disputar homens (adultos). O campeão foi João Silva, 70 kg, na cat. Absoluto Exclusivo (sem limite de peso, nem graduação).

Classificação da Luta Tradicional Portuguesa

70 kg - João Silva da APS (Chaves)

78 kg - João Pereira da APS (Chaves)

76 kg - Telmo Marinho (Boticas)

74 kg - Luís Reis da APS (Chaves)

106 kg - Carlos Resende do CAMME (Ermesinde)

Assim, há mais uma garantia para a continuidade desta arte milenar, não correndo tanto o risco de desaparecer, assim como aconteceu com outras artes marciais. Essa dinâmica vem de um grupo de pessoas, como o mestre Vítor Gomes e seus atletas da Associação Portuguesa O Samurai, que além da Luta Galhofa, ensina outras disciplinas. Desde 2008, no Instituto Politécnico de Bragança, é lecionada como disciplina curricular no curso de Ciências do Desporto, sob a liderança do professor José Bragada.

Em 2020, foi um ano atípico para todos, ainda tentaram organizar uma prova, mas sem êxito. No ano seguinte, o mesmo dilema, porém, conseguiram realizar uma prova na cidade de Chaves. Na final, o atleta João Silva, manteve o título de campeão de Luta Tradicional Portuguesa, enquanto o mestre Vítor Gomes ficou em 2º lugar. Ele decidiu voltar a competir depois de vários anos sem competir e dois anos de pausa, devido a pandemia.

O sonho desse grupo, principalmente do mestre Vítor Gomes, é que as novas gerações tenham acesso a essa riqueza cultural. “Espero que um dia seja considerada como Patrimônio Imaterial da Humanidade, assim como o Fado, Cantares Alentejanos, e mais recentemente, os Caretos de Podence”, fala.